Como o Homo Sapiens se transformou no animal mais dominante do planeta terra? Porque somos tão superiores aos nosso primos chimpanzés se compartilhamos praticamente 99% do código genético. Porque a nossa espécie de humano foi a que acabou sobrevivendo, e não os Neandertais por exemplo. No livro Sapiens - Uma Breve História da Humanidade o autor tenta responder algumas dessas perguntas nos mostrando de forma histórica como que nossos ancestrais passaram de coletores e caçadores a animais que hoje enviam robôs autônomos para estudar outros planetas.
Esse post tem como objetivo separar alguns parágrafos do livro que me chamaram a atenção e nos fazem refletir sobre a nossa história como espécie.
A evolução, assim, favoreceu aqueles capazes de formar fortes laços sociais. Além disso, como os humanos nascem subdesenvolvidos, eles podem ser educados e socializados em medida muito maior do que qualquer outro animal. A maioria dos mamíferos sai do útero como cerâmica vidrada saindo de um forno - qualquer tentativa de moldá-los novamente apenas irá rachá-los ou quebrá-los. Os humanos saem do útero como vidro derretido saindo de uma fornalha. Podem ser retorcidos, esticados e moldados com surpreendente liberdade. É por isso que hoje podemos educar nossos filhos para serem cristãos ou budistas, capitalistas ou socialistas, belicosos ou pacifistas
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Essa passagem é interessante pois nos mostra a versatilidade com que os humanos podem ser moldados, sendo um dos únicos animais capazes disto. A partir disto, podemos entender como a Alemanha nos anos 1930s se renderam as falácias do partido Nazista, ou como todo cidadão nascido na União Soviética acreditava que os Americanos eram seus inimigos e vice-versa. No caso dos alemães, foram moldados por discursos e promessas de grandiosidade, já os soviéticos nascidos naquela época por exemplo, foram moldados pela cultura existente da guerra fria.
Provavelmente estas pessoas nascidas em outros lugares ou submetidas a outros tipos de ambientes, se tornariam pessoas completamente diferentes.
A posição do gênero Homo na cadeia alimentar era, até muito pouco tempo atrás, solidamente intermediária. Durante milhões de anos, os humanos caçaram criaturas menores e coletaram o que podiam, ao passo que eram caçados por predadores maiores. Somente há 400 mil anos que várias espécies de homem começaram a caçar animais grandes de maneira regular, e só nos últimos 100 mil anos - com a ascensão do Homo sapiens - esse homem saltou para o topo da cadeia alimentar.
Esse salto espetacular do meio para o topo teve enormes consequências. Outros animais no topo da pirâmide, como os leões e os tubarões, evoluíram para essa posição gradualmente, ao longo de milhões de anos. Isso permitiu que o ecossistema desenvolvesse formas de compensação e equilíbrio que impediam que leões e tubarões causassem destruição em excesso. À medida que os leões se tornavam mais ferozes, a evolução fez as gazelas correrem mais rápido, as hienas cooperarem melhor, e os rinocerontes serem mais mal-humorados. Diferentemente, a humanidade ascendeu ao topo tão rapidamente que o ecossistema não teve tempo de se ajustar. Além disso, os próprios humanos não conseguiram se ajustar. A maior parte dos grandes predadores do planeta são criaturas grandiosas. Milhões de anos de supremacia o encheram de confiança em si mesmos. O sapiens, diferentemente, está mais para um ditador de uma república de bananas. Tendo sido até tão pouco tempo atrás um dos oprimidos das savanas, somos tomados por medos e ansiedades quanto à nossa posição, o que nos torna duplamente cruéis e perigosos. Muitas calamidades históricas, de guerras mortais a catástrofes ecológicas, resultaram desse salto apressado.
Páginas 18 e 19
Aqui podemos concluir que a natureza não estava preparada pra ascensão do Homo sapiens ao primeiro lugar da cadeia alimentar e ser dominante no planete terra. A natureza não teve tempo de se adaptar ao nosso repentino salto e isso acabou prejudicando-a.
Nos últimos 10 mil anos, o Homo sapiens esteve tão acostumado a ser a única espécia humana que é difícil para nós concebermos qualquer outra possibilidade. A ausência de irmãos ou irmãs torna fácil imaginar que somos o epítome da criação e que um cisma nos separa do resto do reino animal. Quando Charles Darwin sugeriu que o Homo sapiens era apenas uma espécie animal, as pessoas ficaram furiosas. Ainda hoje, muitos se recusam a acreditar nisso. Se os neandertais tivessem sobrevivido, ainda conceberíamos a nós mesmos como uma criatura distinta? Talvez tenha sido exatamente por isso que nossos ancestrais eliminaram os neandertais. Eles eram similares demais para se ignorar, mas diferentes demais para se tolerar.
Páginas 26 e 27
Já imaginou isso? Outras espécies de seres humanos compartilhando o planeta conosco? É realmente uma realidade bem complicada de imaginar. Como seriam nossos sistemas políticos, religiosos e econômicos? Será que seríamos capazes de viver em sociedade? Imagine você chegando no seu trabalho e seus colegas são além dos sapiens, neandertais, Homo erectus e etc. Eu acredito baseado no que vivenciamos hoje em termos de intolerância de cor, raça, local de nascimento, escolha sexual e etc, que a convivência com outras espécies seria complicadíssima. Acho que o que aconteceu com todas as outras espécies a milhares de anos atrás só confirma mais isso.
Mas a característica verdadeiramente única da nossa linguagem não é a sua capacidade de transmitir informações sobre homens e leões. É a capacidade de transmitir informações sobre coisas que não existem. Até onde sabemos, só os sapiens podem falar sobre tipos e mais tipos de entidades que nunca viram, tocaram ou cheiraram.
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Somos os únicos animais que conseguem inventar coisas, pessoas, entidades, objetos e etc. Isso nos torna os únicos que pode contar histórias sobre algo completamente inventado, e que consegue convencer pessoas de que algo que não existe é completamente real.
Toda cooperação humana em grande escala seja um Estado moderno, uma igreja medieval, uma cidade antiga ou uma tribo arcaica - se baseia em mitos partilhados que só existem na imaginação coletiva das pessoas. As igrejas se baseiam em mitos religiosos partilhados. Dois católicos que nunca se conheceram podem, no entanto, lutar juntos em uma cruzada ou levantar fundos para construir um hospital porque ambos acreditam que Deus encarnou em um corpo humano e foi crucificado para redimir nossos pecados. Os Estados se baseiam em mitos nacionais partilhados. Dois sérvios que nunca se conheceram podem arriscar a vida para salvar um ao outro porque ambos acreditam na existência da nação sérvia, da terra natal sérvia e da bandeira sérvia. Sistemas judiciais se baseiam em mitos jurídicos partilhados. Dois advogados que nunca se conheceram podem unir esforços para defender um completo estranho porque acreditam na existência de leis, justiça e direitos humanos - e no dinheiro dos honorários.
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O grande fator positivo de poder convencer as pessoas que algo fictício existe está devidamente resumido no parágrafo acima. Só com essa habilidade é possível ter vários sistemas que hoje nos permitem viver em sociedades (leis, países, moedas e etc). Se não fosse esta habilidade nós provavelmente estaríamos ainda vivendo em comunidades pequenas que não conseguem cooperar muito entre si, daí a importância da Revolução Cognitiva.
Enquanto os padrões de comportamento dos humanos arcaicos permaneceram inalterados por dezenas de milhares de anos. os sapiens conseguem transformar suas estruturas sociais, a natureza de suas relações interpessoais, suas atividades econômicas e uma série de outros comportamentos no intervalo de uma ou duas décadas. Considere uma habitante de Berlim nascida em 1900 e vivendo longevos cem anos. Ela passou a infância no Império Hohenzollern de Guilherme II; seus anos adultos na República de Weimar, no Terceiro Reich nazista e na Alemanha Oriental comunista; e morreu cidadã de uma Alemanha democrática reunificada. Conseguiu ser parte de cinco sistemas sociopolíticos muito diferentes, embora seu DNA tenha permanecido exatamente o mesmo.
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O homo sapiens moderno está em constante transformação, as características geopolíticas do nosso planeta mudam a todo momento, fazendo com que precisemos nos adaptar a diferentes estilos de vida. O exemplo da Alemanha citado acima nos mostra exatamente o que uma pessoa pode experienciar durante sua vida inteira. Viver durante o Terceiro Reich é uma situação totalmente diferente do que viver na Alemanha democrática.
De fato, apesar do seu tamanho, os diprotodontes e outros animais gigantes da Austrália provavelmente não eram muito difíceis de se caçar, porque devem ter sido pegos totalmente de surpresa por seus assaltantes bípedes. Várias espécies humanas estiveram perambulando e evoluindo no continente afro-asiático por 2 milhões de anos. Elas aperfeiçoaram lentamente suas habilidades de caça e começaram a perseguir animais grandes por volta de 400 mil anos atrás. Os maiores animais da África e da Ásia aprenderam a evitar os humanos, de forma que, quando o novo megapredador Homo sapiens surgiu na cena afro-asiática, os animais grandes já sabiam como manter distância de criaturas semelhantes a ele. Já os gigantes australianos não tiveram tempo de aprender a fugir. Os humanos não aparentam ser particularmente perigosos. Eles não têm dentes longos e afiados nem corpo ágil e musculoso. Assim, quando um diprotodonte, o maior marsupial a caminhar pela Terra, pela primeira vez pôs os olhos nesse primata de aparência frágil, ele provavelmente logo virou as costas e continuou mastigando suas folhas. Esses animais ainda precisavam desenvolver medo dos seres humanos, mas foram extintos antes que pudessem fazê-lo.
Páginas 77 e 78
Aqui vemos outra vez o caso de como a natureza não estava preparada para receber os seres humanos. Uma das teorias do motivo da megafauna australiana ter sido extinta é justamente por causa disto, não estavam preparados para lidar com seres humanos. Achavam que por serem pequenos e não aparentarem nenhum perigo não deveriam ter medo dos mesmos. Que outros impactos a evolução repentina do ser humano pode ter causado na natureza despreparada?
A Primeira Onda de Extinção, que acompanhou a disseminação dos caçadores-coletores, foi seguida pela Segunda Onda de Extinção, que acompanhou a disseminação dos agricultores e nos dá uma perspectiva importante sobre a Terceira Onda de Extinção, que a atividade industrial está causando hoje. Não acredite nos abraçadores de árvores que afirmam que nossos ancestrais viveram em harmonia com a natureza. Muito antes da Revolução Industrial, o Homo sapiens já era o recordista, entre todos os organismos, em levar as espécies de plantas e animais mais importantes à extinção. Temos a honra duvidosa de ser a espécie mais mortífera nos anais da biologia.
Talvez se mais pessoas estivessem cientes da Primeira e da Segunda Onda de Extinção, seriam menos indiferentes à Terceira Onda, da qual fazem parte. Se soubéssemos quantas espécies já erradicamos, poderíamos ser mais motivados a proteger as que ainda sobrevivem. Isso é especialmente relevante para os grandes animais dos oceanos. Ao contrário de seus equivalentes terrestres, os grandes animais marinhos sofreram relativamente pouco com a Revolução Cognitiva e a Revolução Agrícola. Mas hoje muitos deles estão prestes a se extinguirem em consequência da poluição industrial e do uso excessivo dos recursos oceânicos por parte dos humanos. Se as coisas prosseguirem no ritmo atual, é provável que baleias, tubarões, atuns e golfinhos sigam os diprotodontes, as preguiças-gigantes e os mamutes rumo ao desaparecimento. De todas as grandes criaturas do mundo, os únicos sobreviventes da inundação humana serão os próprios humanos e os animais domésticos que servem como escravos nas galés da Arca de Noé.
Páginas 83 e 84
Aqui o autor nos apresenta uma realidade cruel, a extinção que está acontecendo como consequência da revolução industrial não é única. O ser humano vem sendo responsável por ondas de extinção a milhares de anos. Será que não está na hora de pararmos um pouco, refletirmos e fazermos um esforço coletivo para cuidar do planeta em que vivemos com um pouco mais de seriedade. Afinal, ainda existem pessoas que pagam milhares de dólares para caçar animais que estão próximos da extinção. Isso nos mostra que estamos longe do mínimo que podemos fazer para um planeta terra mais saudável.
Este foram alguns dos parágrafos que me chamaram atenção durante a leitura do primeiro capítulo. Espero que você também tenha gostado e refletido um pouco sobre o início da história de nossa espécie.
No próximo capítulo, iremos ler um pouco sobre A Revolução Agrícola na qual o ser humano passou a se estabelecer e plantar alimentos num lugar fixo. Isso nos permitiu estabelecer sociedades maiores, mas não necessariamente melhorar a nossa qualidade de vida.